A dificuldade em admitir erros e fracassos minava o trabalho do zootecnista Edney Murillo Secco, de 33 anos, gerente de logística de abastecimento de uma multinacional do setor de alimentos em Goiânia. Todos enxergavam isso, menos ele. “Se minha área não apresentava resultados interessantes, eu culpava os outros. Não conseguia ver que eu também era responsável”, conta.
Às vezes, o problema era o chefe, em outras ocasiões, a empresa ou os colegas. “Demorei a perceber que esse comportamento me prejudicava”, diz Edney. Colocar-se no papel de vítima é uma atitude comum entre os profissionais. “É mais fácil culpar os outros que assumir as próprias responsabilidades”, diz a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR).
Segundo pesquisa realizada pela instituição com 1.000 profissionais, praticamente metade das pessoas (47%) tem comportamento agressivo quando algo dá errado e tende a negar a participação no erro. “É uma tentativa desesperada de não assumir que o problema existe”, acredita Villela da Mata, presidente da Sociedade Brasileira de Coaching. A sensação de injustiça nasce da frustração com situações comuns na carreira: um mau desempenho, uma promoção que não veio ou um colega que teve maior reconhecimento.
Ela também surge com a pressa de atingir determinado resultado. Por trás dessas situações, existe uma expectativa que não foi correspondida. Quando isso ocorre, o cérebro humano sempre sai atrás de culpados. No trabalho, na maioria das vezes, duas figuras assumem o papel de algozes: o chefe e a empresa. Na verdade, trata-se do velho hábito de delegar a responsabilidade sobre a carreira para o patrão.
“Hoje, as organizações não assumem mais a carreira de ninguém”, diz Rosa Krausz, coach de carreira. Esse comportamento se torna nocivo quando o sentimento é excessivo a ponto de inibir a ação ou a reação ao problema, o que prejudica o desempenho profissional. A pessoa se sente tão perseguida que começa a identificar novos alvos para o sentimento de injustiça. Com o passar do tempo, o papel de vítima deixa de convencer os outros.
O paulista Enio Antonio Ferigatto, de 44 anos, não acredita que o comportamento tenha provocado sua demissão do cargo de gerente de novos negócios de uma empresa de pigmentos para plásticos, mas afirma que o fato de ele não se responsabilizar totalmente por suas frustrações e erros contribuiu para o desempenho ruim que apresentou nos meses que antecederam sua saída. “Eu estava incomodado e não assumia toda a culpa. Atribuía uma parte do problema às outras pessoas”, diz Enio.
Insistir em responsabilizar outros pelas próprias frustrações só cria mais problemas. “Quanto mais você culpa alguém ou alguma coisa pelo seu baixo desempenho, menos produtivo você se torna”, diz Villela. Para a psicóloga Ana Maria Rossi, profissionais que agem dessa forma tendem a alimentar a agressividade e criar um ambiente pouco favorável. “Isso leva a maior descontrole e menor concentração”, explica.
Dome sua carreira Seja pela dificuldade de assumir os próprios erros, seja pelo medo de mudar, colocar-se como vítima e apontar o dedo para o possível culpado de seus insucessos pode ser um sinal de que sua trajetória profissional está seguindo em linha descendente. Para os especialistas, atribuir culpas a terceiros indica que a pessoa não tem pleno controle da carreira. Por isso, para mudar um comportamento considerado nocivo, o primeiro passo é identificar se o destino de sua vida profissional está realmente em suas mãos ou nas de terceiros.
Para o coach Silvio Celestino, da Alliance Coaching, o primeiro sinal é fácil detectar: a ausência de objetivos claros. “Muitas pessoas delegam sua carreira ao acaso. Elas agarram as oportunidades conforme surgem, mas não chegam a lugar algum.” Ter uma rede de relacionamento escassa e apegar-se à política de carreira da organização são outros sinais de que algo anda errado.
“Quando não se faz parte de uma rede de relacionamento de pessoas de níveis hierárquicos superiores ao seu, você não está dando a devida atenção a sua trajetória profissional.” Recorrer a justificativas desnecessárias também é sinal de que o profissional está fugindo da responsabilidade. Villela, da Sociedade Brasileira de Coaching, explica que o excesso de desculpas indica falta de controle sobre a carreira.
“Ao abusar de explicações fracas, a pessoa perde o poder de agir a seu próprio favor. Ela se torna refém da situação”, diz Villela. “Quanto mais você inventa desculpas, mais distante fica de seu objetivo.” E ainda pode prejudicar outra pessoa. “Quando o profissional não assume responsabilidade por nada, ele vai sempre ‘encostar’, depender de alguém”, diz a coach Rosa Krausz.
Com a carreira domada e os objetivos bem traçados, os profissionais não têm tempo para encontrar culpados de qualquer coisa. “Quando eu tenho uma expectativa elevada sobre a minha carreira, eu mesmo não consigo admitir justificativas, porque, se admiti-las, não vou conseguir chegar aonde quero”, acredita Villela. Encarar os problemas e entender que a carreira não pode ser terceirizada ajuda a pensar antes de apontar o dedo. “Quando eu assumo que a responsabilidade sobre as decisões profissionais é somente minha, começo a entender que tenho de mudar alguma coisa”, afirma o coach.
Livre-se do papel de vítima
Assuma seu comportamento – Reconhecer o problema é o caminho para aceitar os próprios erros.
Defina um ponto de chegada – Ter um objetivo desafiador diminui a ansiedade e ajuda a manter o foco.
Aumente as possibilidades – Quando o objetivo se resume a uma empresa, fica mais fácil se frustrar e procurar culpados. Amplie sua lista.
Tenha foco na solução – Ao cometer um erro, descubra o que aconteceu e tente consertar. Buscar solução faz você esquecer de procurar culpados.
Pare e pense – Quando seu comportamento o levar a culpar alguém por uma frustração sua, tente reverter a situação. Para mudar um (mau) hábito é preciso treino.
Faça você mesmo – Quem espera que digam o que é preciso ser feito não tem o controle da carreira. O ideal é tentar sempre fazer mais do que esperam de você.
Mantenha-se informado – Diminuir os riscos de cometer erros ajuda a tirar a máscara de vítima. Por isso, estude, desenvolva novas habilidades e fique atento ao que o mercado oferece e exige.
Defina um ponto de chegada – Ter um objetivo desafiador diminui a ansiedade e ajuda a manter o foco.
Aumente as possibilidades – Quando o objetivo se resume a uma empresa, fica mais fácil se frustrar e procurar culpados. Amplie sua lista.
Tenha foco na solução – Ao cometer um erro, descubra o que aconteceu e tente consertar. Buscar solução faz você esquecer de procurar culpados.
Pare e pense – Quando seu comportamento o levar a culpar alguém por uma frustração sua, tente reverter a situação. Para mudar um (mau) hábito é preciso treino.
Faça você mesmo – Quem espera que digam o que é preciso ser feito não tem o controle da carreira. O ideal é tentar sempre fazer mais do que esperam de você.
Mantenha-se informado – Diminuir os riscos de cometer erros ajuda a tirar a máscara de vítima. Por isso, estude, desenvolva novas habilidades e fique atento ao que o mercado oferece e exige.
Fonte: Portal Exame
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