quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A ARTE DE OLHAR PARA DENTRO



Faz parte da prática clínica estabelecer a Ética no início do processo terapêutico. E já vou logo avisando aos meus pacientes: “Fazer terapia não é gostoso!” O “pós” sim é gostoso, libertador... mas e o “durante”? Não que seja difícil, como muitos procuram afirmar... é “trabalhoso”!

Estamos acostumados a lidar com aquilo que é bom, confortável, que nos traz segurança e reconhecimento. Fomos educados para lidar com o agradável. Sentimos algo bom dentro de nós quando somos elogiados por algo que fazemos. Tirou dez na prova? “Parabéns, Filhinha!” Fez parte do time que venceu o campeonato? “Esse é o meu Garoto!!!” Comportou-se direitinho na casa da titia? “Que educados são seus filhos!”

Quando criança, recebemos muitos ganhos primários através do comportamento do adulto, que nos suprem de atenção e reconhecimento. Esses ganhos fazem-nos sentir amados, valorizados e aceitos em determinado local ou grupo. O início do olhar para dentro de si começa por aqui: quantos de nós, acostumados na infância a receber esses ganhos, nos tornamos adultos propiciatórios e egocêntricos? Indivíduos que fazem de tudo para agradar ao outro, para receber em troca a segurança de ser aceito e valorizado? E quando essas atitudes não geram aquilo que você está acostumado a ganhar?

Ficamos perdidos quando desmorona o nosso Castelo de Ilusões. Alguém te ensinou a lidar com a frustração? Com aquilo que é desagradável? Provavelmente não... Ninguém nos ensina isso, por isso sofremos tanto com aquilo de que não gostamos. Sofremos muitas frustrações desde a vida infantil e vamos guardando todos os conflitos não resolvidos como “lixos” dentro de nós. Muitas vezes, nos tornamos adultos intolerantes com os nossos próprios erros e, por conseqüência, muito exigentes conosco mesmo e com os outros. Idealizamos uma vida maravilhosa e perfeita em nossos sonhos e fantasias, mas caímos por terra quando a realidade bate dura em nossa porta.

Quando olhamos para dentro, aprendemos a nos fortalecer através do uso da razão e da compreensão. Aprendemos a focar no presente, sem nos deslocarmos para o que ficou no passado, e sem criar idealizações, pensando somente no futuro. Aprendemos a reconhecer os nossos desejos e a lidar com as nossas defesas. Lidar com o desagradável também é um aprendizado, por isso, precisamos praticar todos os dias! Você costuma apontar no outro os defeitos que enxerga? Acha que os outros são os responsáveis pelos problemas dos quais vive hoje? Costumamos jogar para o outro a responsabilidade daquilo que acontece conosco através do julgamento. Esquecemos que somos nós os responsáveis por tudo o que acontece em nossas vidas.

É necessário reconhecer as nossas imperfeições. Ao olhar para dentro, podemos assumir novamente o comando de nossas vidas. Quando compreendo as minhas escolhas e assumo a responsabilidade das conseqüências, passo a ser protagonista da minha própria história, ao invés de me acomodar na posição de “vítima do mundo”, como muitos optam fazer. Quando olho para dentro e continuo firme no árduo trabalho de conhecer a mim mesmo, faço também a opção de me manter em movimento. Somos seres passando por um processo evolutivo, portanto, é necessário força e persistência para continuar caminhando! Os tropeços fazem parte do caminho de quem está se mexendo, e a vitória de cruzar a linha de chegada também!


Temos dentro de nós todos os recursos necessários para lidar com as escolhas que fazemos. A partir do processo terapêutico, quando o paciente permite encontrar a sua essência, criamos juntos ferramentas e descobrimos recursos para que possa reconstruir a sua vida com pedras autênticas. Só assim, podemos finalmente encontrar a Felicidade Real! A felicidade que cada um potencializa e que vem de dentro, e não aquela que vem de fora e nos supre momentaneamente... Nós, terapeutas, somos o instrumento que mostra os recursos que auxiliam o paciente nesta busca apaixonante, neste olhar para dentro de si. E neste passo, o paciente se torna um só: é o artista que lapida e a própria obra de arte.

 texto por: Andressa Tiemi Saito
Psicanalista Clínica